quinta-feira, 24 de março de 2011

Introdução a Psicologia

INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA
MÓDULO 04-B


SUMÁRIO



CAPÍTULO I

I – PSICOLOGIA
03
      1 – Conceito

      2 – Objeto e Método     

      3 – Teorias e Escolas psicológicas

      4 – Os fenômenos psicológicos e sua classificação

II – A BASE FÍSICA DA VIDA PSICOLÓGICA

      1 – Genética

      2 – O sistema nervoso e as glândulas endócrinas

      3 – Os reflexos

CAPÍTULO II
09
A FORMA GERAL DA VIDA PSICOLÓGICA

      1 – O sujeito psicológico

      2 – A consciência

      3 – O consciente, o subconsciente e o inconsciente

O SISTEMA DINÂMICO-SENSORIAL

      1 – O dinamismo

      A – O automatismo

      B – A vontade

      C – O hábito

      2 – A sensibilidade

CAPÍTULO III
12
OS FATORES ESSENCIAIS  DO PSIQUISMO

1 – O conhecimento

2 – Elementos básicos do conhecimento

      a) A sensação

      b) A imagem

      c) A percepção

      d) A idéia

3 – Processos de elaboração do pensamento

      a) A associação

      b) O juízo e o raciocínio

      c) A memória

      d) A imaginação

4 – Fatos essenciais do conhecimento

      a) A crença

      b) A emoção

5 – Processos de elaboração das reações

      a) O processo de condicionamento

      b) O processo psicotensivo

6 – Os fatos essenciais da afetividade

      a) As tendências inatas

      b) As tendências adquiridas

CAPÍTULO IV
18
ESTRUTURAS FENOMELÓGICAS

I – A personalidade

      1 – A constituição

      2 – O temperamento

      3 – O caráter

CAPÍTULO V
20
NOÇÕES DE PSICANÁLISE

      1 – A estrutura psicodinâmica

      2 – A dinâmica subliminar

      3 – A ansiedade e a angústia

      4 – A psicoterapia

      a) método analítico

      b) método catártico

      c) método hipinótico

      d) método de relaxamento

      e) método de “sonho éveille”

      f) método de nascoanálise

CAPÍTULO VI
26
O COMPORTAMENTO E A VOLIÇÃO

1 – As origens do comportamento

      a) fator psíquico

      b) fator orgânico

      c) fator sócio-mental

      d) fator físico

2 – atitudes

BIBLIOGRAFIA



CAPÍTULO I

1. Psicologia

1. Conceito

         Etimologicamente a Psicologia é o estudo da alma. O vocabulário vem em grego: psiché= alma e logia= estudo, tratado. Mas a definição depende dos diferentes pontos de vista ou escolas adotadas pelos psicólogos. As divergências decorrem, notadamente, da concepção que eles têm do objeto “alma”. Os espiritualistas consideram a alma uma entidade uma entidade substancial e imortal, capaz de existir independentemente do organismo, enquanto os materialistas, ao contrário, entendem que a alma representa apenas uma função do cérebro ou do soma, sem a qual nunca poderá subsistir. Esta concepção parece permitir que se considere a existência de um alma, que se possa qualificar como vegetariana, sensitiva, racional, assim como um sujeito psicólogo.
         Eis algumas das definições apresentadas por grandes psicólogos:

“Psicologia é a ciência da alma, sendo esta uma série de todas as funções mentais”. (Hoffding)
“Psicologia é o estudo científico da natureza humana” (Agramonte).  
“Psicologia é a ciência empírica que estudas os fatos da consciência humana”. (Wundt)
“Psicologia é o estudo científico da vida mental”. (Warren)
“Psicologia é o estudo da vida mental como processo de ajustamento de organismo ao meio”. (Dewey)

         Estas e outras definições demonstram que a Psicologia teve uma evolução conceptual: 1º - Estudo da alma; 2º - Estudo da consciência; 3º - Estudo do Comportamento (reações externas); 4º - Estudo da Conduta, compreendendo-se neste último termo as reações externas somadas às causas ou reações mentais.
         Parece prevalecer o uso do termo psiquismo para significar tudo o que consiste na vida cognitiva (ou intelectiva) e na vida afetiva (ou emocional), que se referem ao “sujeito pensante”.
         O estudo da alma ou dos fenômenos mentais teve a sua origem marcante na antigüidade clássica e permaneceu com vários nomes, sem denominação especial ou patente, até o século XVI, quando foi criado o termo Psicologia.
         A Psicologia permanente, tradicionalmente, como uma das cincos partes da filosofia (Psicologia, Lógica, Ética ou Moral, Estética e Metafísica). Contudo, já neste século, a Psicologia adquiriu uma feição nova – de ciência positiva – estabelecendo lei teorias baseadas na observação e em provas experimentais, por meios de testes e aparelhos especiais.
         Atualmente resta-nos admitir a existência de duas psicologias, perfeitamente caracterizadas: uma Psicologia Filosófica ou Racional; e uma Psicologia Modera, Científica ou Experimental, sendo esta considerada um ramo das ciências Naturais ou particularmente da Biologia.

2. Objeto e Método

         O objeto da Psicologia depende da definição adotada, assim como o método depende da natureza do objeto formal.

     a) A Psicologia Racional ou Filosófica tem por objeto da alma em sua natureza profunda e essencial. Procura estabelecer a existência e a natureza do princípio primeiro dos fenômenos psíquicos, bem como estudar as suas causas últimas, transcendentais e contigentes. Adota o método dedutivo, cujo o raciocínio vai de uma verdade universal a uma outra menos universal ou singular.

     b) O objeto da Psicologia Moderna, Científica, Experimental, Empírica é a conduta humana, ou seja a vida mental e comportamento, compreendendo, aí, “o mundo interior e as suas manifestações exteriores”. Adota o método indutivo, cujo o raciocínio de uma ou mais verdades singulares a uma verdade universal. Desse método deriva o método de observação e a experimentação, sendo esta o complemento indispensável da observação. A observação pode ser interna ou externa, também chamadas introspecção ou extropecção.

3. Teorias e Escolas Psicológicas

         Entre as Teorias e Escolas destacam-se as seguintes:

     a) A Ciência – que antigamente, procurando explicar os fenômenos psíquicos de maneira puramente teórica, considerava “faculdades da alma” a sensibilidade, a inteligência e a vontade.

     b) A Atomista, a Reflexionista e o Behavorismo – que reduzem os fatos psicológicos, respectivamente a átomos, a reflexos e ao comportamento do indivíduo, indicando a necessidade de fragmentação das funções mentais para submetê-las a experiências;

     c) O Guestalismo (ou Estruturalismo) – que procura explicar a vida mental como um todo, uma estrutura indecomponível que não pode ser fragmentada, permitindo, no entanto, a separação de elementos, artificialmente para fins experimentais; e

     d) A Psicanálise – que busca estudar o indivíduo mediante a pesquisa e análise das causas profundas de natureza inconsciente que o levam a agir desta ou daquela forma.

4. Os fenômenos psicológicos e sua classificação   

         Os fenômenos psicológicos são fatos subjetivos (inextensos), sensíveis e abstratos, que se processam no campo da consciência. Podem-se configurar com elementos irredutíveis atuantes na vida cognitiva a afetiva, porém, essencialmente compreendidos numa estrutura mental. Só podem ser diretamente observados pelo indivíduo no qual eles se realizam.
         A noção de fenômeno psicológico abrange os sistemas os processos dinâmicos e sensíveis pelos quais se desenvolvem o pensamento, as reações afetivas e as externas que constituem o comportamento individual.
         Tradicionalmente, dividem-se os fenômenos psicológicos em três grupos:

     a) Fenômenos conscientes – os que processam na consciência clara, como a percepção, a idéia, o juízo, o raciocínio, a memória, a imaginação, a crença imediata, a emoção, o sentimento, a vontade refletida, a intuição.

     b) Fenômenos subconscientes – os que não são claramente percebidos, podendo, porém, aflorar na consciência clara a qualquer momento, como a sensação, a imagem, as idéias e sentimentos latentes, os sonhos.

     c) Fenômenos inconscientes – os que são absolutamente imperceptíveis mas que exercem grande influência sobre o psiquismo individual, como os fatos emocionais do passado que caíram no esquecimento, as predisposições naturais que regem as tendências instintivas, etc.

         Explica-se, a forma geral da vida psicológica através de: um elemento básico – o sujeito psicológico; de um campo psicofenomenológico – a consciência; e de um conjunto de elementos coordenados na formação psíquica individual – os sistema dinâmico-sensorial.
         Efetivamente, o psiquismo fundamenta-se na existência do sujeito psicológico (empírico), que se manifesta através da consciência e nesta se operam, de modo mais ou menos claro, os fenômenos psíquicos em geral. O maior grau de intensidade e concentração da consciência sobre um objeto ou um acontecimento constitui a atenção. As funções psíquicas são regidas por um sistema, compreendendo automatismo orgânico, o hábito, a vontade e a sensibilidade, o qual ora excita, ora inibe as reações diante dos estímulos e exigências do mundo externo.
         Estudaremos também os fatos essenciais do psiquismo que são os conhecimento e a afetividade. O conhecimento, compreende os fenômenos intelectivos, é o conjunto de processos de representação mental pelos quais, através dos sentidos, os objetos e suas relações são dados ao sujeito como realidades. A afetividade é o conjunto de processos pelos quais os indivíduo é sensorialmente influenciado, de modo agradável ou desagradável, pelas solicitações e pressões do meio externo, reagindo de várias formas.
         Os elementos básicos do conhecimento são a sensação, a imagem, a percepção e a idéia. Os dois primeiros são sensíveis e os outros, abstratos.
         Desenvolvendo-se o conhecimento pelos seguintes processos: processo de sucessão – a associação (de imagens e idéias); processo de relação – o juízo e o raciocínio; o processo de evocação – a memória; e o processo de combinação – a imaginação. São esses os processos de elaboração do pensamento.                              

OS FENÔMENOS PSICOLÓGICOS E SUA CLASSIFICAÇÃO


         Os fenômenos psicológicos são fatos subjetivos (inextensos), sensíveis e abstratos, que se processam no campo da consciência. Podem-se configurar como elementos irredutíveis atuantes na vida cognitiva e afetiva, porém, essencialmente compreendidos numa estrutura mental. Só podem ser diretamente observados pelo indivíduo no qual eles se realizam.
         A noção de fenômeno psicológico abrange os sistemas e processos dinâmicos e sensíveis pelos quais se desenvolvem o pensamento, as reações afetivas e as externas que constituem o comportamento individual.
         Tradicionalmente, dividem-se as fenômenos psicológicos em três grupos:
a)   Fenômeno conscientes - os que processam na consciência clara, como a percepção, a idéia, o juízo, o raciocínio, a memória, a imaginação, a crença imediata, a emoção, o sentimento, a vontade refletida, a intuição.
b)   Fenômenos subconscientes - os que não são claramente percebidos, podendo, porém, aflorar na consciência clara a qualquer momento, como a sensação, a imagem, as idéias e sentimentos latentes, os sonhos.
c)   Fenômenos inconscientes os que são absolutamente imperceptíveis mas que exercem grande influência sobre o psiquismo individual, como os fatos emocionais do passado que caíram no esquecimento, as predisposições naturais que regem as tendências instintivas, etc.
Explica-se, a forma geral da vida psicológica através de: um elemento básico – o sujeito psicológico; de um campo psicofenomenológico – a consciência; e de um conjunto de elementos coordenados na formação psíquica individual – o sistema dinâmico-sensorial.
         Efetivamente, o psiquismo fundamenta-se na existência do sujeito psicológico (empírico), que se manifesta através da consciência e nesta se operam, de modo mais ou menos claro, os fenômenos psíquicos em geral. O maior grau de intensidade e concentração da consciência sobre um objeto ou um acontecimento constitui a atenção. As funções psíquicas são regidas por um sistema, compreendendo um automatismo orgânico, o hábito, a vontade e a sensibilidade, o qual ora excita, ora inibe as reações diante dos estímulos e exigências do mundo externo.
         Estudaremos também os fatos essenciais do psiquismo que são o conhecimento e a efetividade. O conhecimento, que compreende os fenômenos intelectivos, é o conjunto de processos de representação mental pelos quais, através dos sentidos, os objetos e suas relações são dados ao sujeito como realidade. A efetividade é o conjunto de processos pelos quais o indivíduo é sensorialmente influenciado, de modo agradável ou desagradável, pelas solicitações e pressões do meio externo, reagindo de várias formas.
         Os elementos básicos do conhecimento são a sensação, a imagem, a percepção e a idéia. Os dois primeiros são sensíveis e os outros, abstratos.       
         Desenvolve-se o conhecimento pelos seguintes processos: processo de sucessão – a associação (de imagens e idéias); processo de relação – o juízo e o raciocínio; processo de evolução – a memória; e o processo de combinação – a imaginação. São esses os processos de elaboração do pensamento.
         São fatos essenciais cognitivos a crença e a inteligência.
         Os elementos fundamentais da efetividade são o prazer, a dor e a emoção, que constituem, respectivamente, um fato sensível e um abstrato.
         Consideramos processos psíquicos de elaboração das reações afetivas o processo de condicionamento e o processo psicotencivo.
         Os fatos essenciais de efetividade são as tendências inatas ou instintivas e as tendências adquiridas ou sentimentos. 
         Estudaremos ainda as estruturas fenomenológicas, ou seja os conjuntos estruturados de processos psíquicos relacionados à personalidade, à psicanálise, ao comportamento e à vontade integral.

II. A BASE FÍSICA DA VIDA PSICOLÓGICA


         O organismo é a base física da vida psicológica. Os fenômenos fisiológicos condicionam o funcionamento da vida psíquica, enquanto, inversamente, o psiquismo exerce ampla e decisiva influência sobre o organismo.

1.   GENÉTICA

         A vida do ser humano ou dos animais superiores origina-se no momento da fecundação, quando uma célula germinal masculina se une a outra feminina, transformando-se ambas numa célula-ovo ou zigoto. De modo semelhante a uma semente vegetal, a célula-ovo traz da sua procedência genética os elementos fundamentais da espécie – os raciais e outros particulares aos ascendentes, os quais irão manifestar-se na formação e no decorrer da existência do novo ser: constituição física, cor da pele, dos olhos e dos cabelos; tipo de sangue; sexo; certas propriedades fisiológicas responsáveis pela formação e combinação de padrões nervosos que regularão o futuro comportamento instintivo, etc.
         A hereditariedade consiste na transmissão de caracteres biológicos de uma para outra geração, a qual se processa através de mecanismos genéticos.

2.   O SISTEMA NERVOSO E AS GLÂNDULAS ENDÓCRINAS.

         Dois sistemas orgânicos operam particular e preponderantemente em função da vida psíquica: o sistema nervoso e as glândulas endócrinas.
         No sistema nervoso distinguem-se o sistema encéfalo-raquidiano (ou cérebro-espinhal) e o sistema autônomo (ou simpático).
         O sistema encéfalo-raquidiano é responsável pelas relações entre o organismo e o meio externo, influindo principalmente sobre as funções de relação. Compreende a parte central – encéfalo e a medula espinhal e a parte periférica. Os nervos cranianos os raquidianos de fora da coluna.
         O sistema autônomo, que preside a vida vegetativa controlando os órgãos internos, compreende os gânglios e os plexos.
         As glândulas endócrinas ou de secreção interna são órgãos que lançam hormônios no sangue, através do qual exercem ação estimulante ou inibidora sobre o funcionamento dos diversos órgãos, influindo decisivamente sobre o desenvolvimento físico e mental. Compreendem a hipófese (ou pituitária), a tiróide, paratiróide, supra-renal, pâncreas, gônadas (ou glândulas sexuais: ovários, na mulher, e testículos, no homem).
         O cérebro é a sede da mente, onde nascem e se desenvolvem os pensamentos, a memória, a inteligência, portanto, é a sede da consciência. É o centro da atividade orgânica, da motricidade e da sensibilidade em que se funda o psiquismo que traduz a própria vida. Doze bilhões de células especializadas (neurônios) ali funcionam, em conexões mútuas. Cada aparelho nervoso pode constituir um lugar de comutação, de distribuição ou de multiplicação do corrente nervoso. Conduto não se concebe que numa dada região de cérebro se desenrole um fato de consciência. O que se localizam são funções motoras, que podem ser modificadas ou inibidas pela ação de certos excitantes ou deprimentes, influindo diretamente sobre determinadas funções psíquicas.
         O sistema nervoso é constituído de neurônios, cada um dos quais possui ramificações que se espalham como ramos de árvore numerosos: são os dentritos. Um mesmo neurônio pode fazer contatos (sinapse) com mais de trezentos outros.
         As vias motoras são as que, transmitindo a reação dos centros nervosos à periferia, produzem o movimento pela contração de um músculo ou grupo de músculos. Distinguem-se, nas vias motoras, dois sistemas funcionalmente diferenciados, como responsáveis pelos movimentos voluntários e pelos automáticos: o sistema piramidal e o extrapiramidal. Em ambos a excitação se produz por células do córtex cerebral (neurônios motores centrais) cujos prolongamentos constituem as vias motoras, sendo a excitação provocada por estímulos ideonervosos, elaborados pela própria volição (instintiva, habitual, racional), portanto de origem ou de influência psíquica.
         São funções primordiais do sistema nervoso; a regulação funcional dos diferentes órgãos – respiratórios, digestivos, etc; e a relação do indivíduo com  o ambiente, adaptando o seu comportamento às condições e solicitações do meio.
3.   OS REFLEXOS

         O reflexo é um fenômeno nervoso que consiste no fato de uma excitação provocar automaticamente, em virtude de conexões estabelecidas, reação, de um gênero determinado (contração muscular, secreção).
         O reflexo se opera da seguinte maneira:
         1º) Um órgão sensorial receptor é excitado (por um estímulo exterior qualquer): poeira causa irritação nas mucosos nasais e na garganta; uma picada de alfinete na pele, etc.
         2º) Um nervo aferente (ou centrípeto) conduz a onda nervosa (via sensível).            
         3º) Um centro nervoso elabora a reação.
         4º) Um nervo eferente (ou centrífugo) conduz a onda nervosa (via motora).
         5º) Um órgão funcional (músculos, glândulas) executa a reação: espirro, contração automática de um membro do corpo, salivação, susto.
         Os reflexos medulares (ou simples) executam-se de maneira puramente automática, limitando-se a operação aos neurônios que fazem conexão da medula espinhal (o sensitivo e o motor) provocando reações invariáveis. Todavia a excitação, geralmente, atinge, por derivação, os centros cerebrais, podendo, assim, sofrer como resposta uma reação influenciada pelo hábito ou controlada pela vontade. Os reflexos que se operam deste modo são denominados reflexos condicionados.
         Muitos fisiólogos e psicólogos consideram reflexos psíquicos, em razão de sua origem, as reações ideonervosas, cuja excitação inicial é produzida nas células corticais por efeito de uma representação mental, independentemente de estímulo objetivo – uma simples lembrança provoca uma reação. Mas convém observar que o reflexo é um fenômeno que se opera exclusivamente no organismo e sua reação a ele circunscreve-se. Se a sua resposta sofrer influência decisiva do sujeito psicológico, o reflexo perde o seu automatismo característico, prevalecendo o ato voluntário, extrínseco e posterior ao fenômeno orgânico. As respostas reflexos, mesmo nos reflexos condicionados, se processam antes de o indivíduo ter noção exata do estímulo, e os variáveis efeitos da excitação dependem tão-somente da sua relação com o conjunto orgânico que vem sendo constantemente modificado pelas excitações simultâneas ou precedentes.
         Um exemplo típico de reflexos condicionados, fundados nas experiências de Pavlov, no início deste século, tem sido muito citado: acostuma-se um cão a ouvir um som determinado cada vez que se apresenta um alimento: depois de algum tempo, apenas a emissão do som provoca no mesmo a reação salivar. A coincidência dos estímulos som e alimento associou o movimento simultâneo de dois diferentes órgãos sensoriais, de tal modo que quando apenas um é excitado o outro automaticamente em função. Fundamenta-se esse fenômeno na teoria da canalização de impulsos pela formação de vias de condução através das conexões neurônicas.
         A formação do conhecimento e da afetividade adquirida se processa por meio de condicionamento, pela simultaneidade ou sucessão imediata de estímulos cujas respostas àqueles, desencadeiem as respectivas reações. É por esse mesmo processo que se formam os hábitos, se desenvolvem as associações de imagens e idéias que proporcionam o funcionamento da memória, e se condicionam os estados efetivos. Ao sentirmos, por exemplo, em certo odor, imediatamente nos vem à lembrança de uma pessoa que usava o mesmo perfume, e logo nos vem à memória uma música que era de nossa preferência e automaticamente começamos a cantarolar. Essa teoria só parece insuficiente quando se pretende explicar a evocação voluntária. Não tem sido possível descobrir o mecanismo que permite ao indivíduo, voluntariamente, “localizar” ou reproduzir, com rapidez, na própria consciência, entre milhões e milhões de imagens adquiridas no passado, exatamente a que quer lembrar-se. Sabe-se, porém, que o método de “associação de estímulos” pode facilitar essa tarefa nos casos de profundo esquecimento: se quisermos nos lembrar no nome de certa pessoa, isso melhor conseguiremos pela rememorização de coisas a fatos ligados à mesma pessoa.
         Toda a vida psíquica, enfim, desenvolve-se através de inúmeras, simultâneas e contínuas séries de reflexos automáticos interligados por hereditariedade, cujas respostas podem ser condicionalmente modificadas pela experiência e pelo uso da faculdade voluntária.        

CAPÍTULO II

I- O SUJEITO PSICOLÓGICO

         Segundo Jolivet, é impossível imaginar-se a existência de qualquer forma de sensibilidade ou do sujeito sensível. A sensibilidade é, portanto, inerente do sujeito psicológico. Quando se trata de objetivar o psiquismo, o termos “sujeito”, “alma”, “mente”, “eu” (substantivo) têm a mesma significação. A “personalidade” é um atributo de sujeito revestido de qualidade e propriedades específicas do ser humano.
         Todos os fenômenos psicológicos são próprios do sujeito e só podem ser por ele diretamente observados, portanto, não podem haver Psicologia autêntica sem Sujeito Psicológico. Não é senão por um ato segundo, por introspecção, que a consciência, a personalidade própria e todos os fatos de consciência tornam-se objetos de conhecimento (Jolivet).

II- A CONSCIÊNCIA   

         A consciência tem sido definida pelos psicólogos como “intuição que um ser tem de si mesmo”, representando o centro de convergência e o foco de irradiação da vida mental. Emprega-se o termo “consciência”, também, para designar o conjunto de fenômenos mentais ou o “campo” onde se operam esses fenômenos.

1. O CONSCIENTE, O SUBCONSCIENTE E O INCONSCIENTE.
         Os estados de consciência, conforme a sua intensidade intuitiva ou perceptiva, e as condições práticas, têm sido tradicionalmente classificados em três níveis, denominados consciente,  (ou preconsciente) e inconsciente. Esses estados podem ser considerados simultâneos quando se trata de objetivar as suas relações com certos fenômenos psicológicos que neles se processam: no indivíduo em estado consciente realizam-se, ao mesmo tempo fato subconscientes e inconscientes, tais como as sensações e as imagens não percebidas e as disposições latentes, existentes em potência.
a)   O consciente representa o mais elevado nível de atividade mental. Em quase todos os instantes da nossa existência, desde que estejamos acordados, os fatos de consciência se processam claramente e, assim, sob o controle seletivo da atenção, percebemos algum ou vários objetos, pensamos neles e temos emoções mais ou menos intensas.
b)   O subconsciente (ou preconsciente) compreende o nível intermediário da atividade mental, entre a consciência clara e o estado de consciência praticamente negativo. Há momentos em que não pensamos em nada e a atividade e a representação mental enfraquece a tal ponto que sentimos mas não percebemos os objetos presentes ou as significações mais simples, como se não estivéssemos ouvindo os rumores do ambiente, nem sentindo o contato da nossa roupa e nem olhando para alguma coisa (diz-se “olhar sem ver”). Os termos subconscientes e preconscientes referem, também, ao conteúdo fictício da mente quando se trata de certos fatos passados que podem aflorar na consciência clara a qualquer momento, porque são facilmente evocados.
c)    O inconsciente. A expressão negativa “inconsciente” parece imprópria para designar um estado de consciência quase nulo. Normalmente, conquanto pareça intermitente, a consciência é contínua e a sua diminuição nunca chega ao zero psicológico ou inconsciência total. O indivíduo quando dorme ou esteja imerso em sono hipnótico continua a captar as sensações, podendo até calcular o tempo e prever um perigo (casos excepcionais), embora a intuição esteja tão reduzida que o sujeito psicológico pareça totalmente afastado da realidade. Se o inconsciente parecer dotado de poderes extraordinários ou influenciados por alguma entidade estranha, cabe à parapsicologia desvendar o mistério.

III- SISTEMA DINÂMICO-SENSORIAl

         Fundamenta-se a observação do psiquismo no movimento próprio (objetivo) nos seres animados e na sensibilidade (subjetiva) que constitui uma faculdade exclusiva do sujeito psicológico.

1. O DINAMISMO
         Ba base da Psicologia convém evidenciar, como procurou fazer o psicólogo e professor Amaral Fontoura que o movimento é característico fundamental do universo. Movem-se os astros, os ventos, os rios e os mares. Movem-se os átomos (o “spih” – movimento circulatório dos elétrons) e as moléculas que se transformam. Há movimentos de atração e repulsão nos corpos inorgânicos. Movem-se, enfim, do ínfimo ao imenso, todas as coisas ocupantes do espaço infinito. Contudo, considera-se inanimados os corpos inorgânicos, por são terem visível movimento próprio. A pedra, por exemplo, porque a sua massa e a sua forma só se modificam se houver um agente externo causador da mudança.
         O movimento próprio é a condição precípua da existência dos seres vivos organizados, como a planta e o animal, cujas estruturas biológicas estão sujeitas a contínuas transformações e a um constante refazer interior. Nascem, crescem, reproduzem e morrem.
         A forma mais primitiva do movimento orgânico é a irritabilidade pela qual a célula animal reage de maneira específica à ação de estímulos externos, produzindo fenômenos anatômicas, motores, luminosos, térmicos, elétricos, etc. a irritabilidade em grau mais elevado, produzindo movimentos de atração e repulsão do ser vivo em face de certos agentes físicos-químicos, chama-se tropismo: heliotropismo – em relação à luz; tactismo – em relação ao contato com objetos sólidos, etc. em grau mais elevado de complexidade encontra-se o reflexo.

2. O AUTOMATISMO
         O automatismo compreende os movimentos maquinais do meio interno, próprios do organismo (reflexos), produzidos por impulsos naturais hereditários, os quais se processam independentemente da vontade. Esses movimentos, não obstante, conservarem as propriedades essenciais, podem, em geral, ser voluntariamente modificados ou inibidos, bem como tornarem-se habituais, formados por reflexos condicionados.
         Os movimentos instintivos, como os de um pássaro que voa pela primeira vez em direção a uma árvore, ou de uma criança nova que se mostra excitada ao ver um alimento, não são puramente automáticos, pois supõem a intervenção do conhecimento e da vontade irrefletida (atos psíquicos) em face dos estímulos externos.
         O automatismo constitui a base orgânica da vida psíquica, notadamente no desenvolvimento das tendências instintivas e das modificadas pela aprendizagem.

3. A VONTADE
         A vontade é um fenômeno mental consciente que consiste num ato decisivo, mais ou menos deliberado, de determinação facultativa, próprio do sujeito psicológico. Pode-se opor a uma atividade inconsciente, especialmente quando determina passividade.
         Na definição do fenômeno vontade encontra-se sérias dificuldades em face das múltiplas teorias conhecidas. Muitos o definiram como “poder de atividade racional”, como: “faculdade de querer, afirmar ou negar”, “reação própria do indivíduo”, desejo dominante”, ou estudam-no simplesmente como “ato ou comportamento voluntário”, não importando a sua natureza ou essência.
         Podem-se distinguir num ato voluntário três fases que, no entanto, só aparecem claramente distintas quando o ato determina uma acentuada hesitação: a deliberação, a decisão e a execução.                   
a)   A deliberação é um fenômeno intelectivo, um momento de indecisão durante o qual o sujeito psicológico observa os fatos ou objetos, para acreditar e decidir;
b)   A decisão reduz-se ao “eu quero”, ao “fiat” (aconteça, faça-se), constituindo a fase essencial do fenômeno; e
c)    A execução consiste em realizar o que foi decidido.

a)   Vontade irrefletida - quando se opera no indivíduo por atendimento às impressões agradáveis e em vaga atenção aos movimentos habituais e aos instintivos;
b)   Vontade racional - a que se e exerce conforme a razão ou a crença raciocinada;
c)   Vontade constrangida – a que se opera forçada pelas circunstâncias, em oposição ao desejo do próprio sujeito psicológico; e
d)   Vontade firme ou integral - quando se realiza plenamente, isto é, com lucidez e segurança, inspirada na confiança de superar os obstáculos.
         A vontade irrefletida e a constrangida são peculiares aos animais e às pessoas desatentas ou coagidas, enquanto a vontade racional e a vontade firme ou integral são comuns aos indivíduos coerentes e resolutos.    

4. O HÁBITO
         Etimologicamente define-se o hábito como um ter - habere - que se traduz como “propriedade de conservar o passado”.
         Procurou-se preliminarmente definir o hábito em termos de inércia ou passividade, ou de costume, comparando-os com certos fenômenos físicos e processos de conformação fisiológica em adaptação do indivíduo ao ambiente: um corpo elástico, quando dobrado ou esticado, tende retornar ao seu estado primitivo; o organismo se reforça automaticamente habituando-se a um clima muito quente ou muito frio, ou ao barulho ensurdecedor de uma máquina, ao uso de uma forte bebida alcóolica e de certos alimentos picantes, etc. Mas a plasticidade orgânica representa apenas uma restrita condição do hábito, pois este implica o desenvolvimento de atividade, caracterizando-se pela expressão de um dinamismo perenizante.
         O hábito pode ser encarado de duas formas: objetivamente, como elemento dinâmico resultante da interação automático-volitiva, cujo mecanismo se explica em termos fisiológicos, pela formação de vias nervosas; e subjetivamente, como um fenômeno psíquico subconsciente que consiste na conservação ou reprodução semi-automática de atos ou de atitudes anteriormente praticados, e que se realiza a partir de um estímulo ou impulso mais ou menos voluntário.
         Diz Jolivet que o “hábito é a vontade automatizada” ou “um automatismo que nasce da atividade voluntária”. Realmente, o automatismo no hábito é sensivelmente vigiado e controlado pela vontade, e, “quando a atenção e a vontade desaparecem totalmente, ocorre a distração, consistindo esta, precisamente, no funcionamento de automatismo sem controle sem nem adaptação, às circunstâncias”. É pelo hábito, enfim, que o vivente torna-se capacitado a conservar e reproduzir, com facilidade crescente, atividades anteriormente praticadas, assim como, implicitamente, adquirir novos conhecimentos, aptidões e disposições afetivas. O hábito constitui, assim, o centro dinâmico do psiquismo na formação e no desenvolvimento intelectual e afetivo.

5. A SENSIBILIDADE
         A sensibilidade, resultante de impressões recebidas no cérebro através das vias nervosas aferentes ou provocada por uma representação mental, constitui o fenômeno essencial na base do psiquismo. Em ação coordenada com elementos motores, a sensibilidade faz parte integrante do sistema dinâmico-sensorial. Compreende o conjunto de fatos sensoriais cognitivos e efetivos.
         A sensibilidade pode ser compreendida, também, num plano “extrafísico”, tal como se apresenta nos fenômenos parapsicológicos de percepção extra-sensorial.
         Pode a sensibilidade ser encarada sob dois aspectos:
a)   como elemento pré-intuitivo ou precosnciente, cuja existência só é conferida secundariamente pela atenção: só percebemos de modo mais ou menos claro os rumores do ambiente, o tique-taque do relógio, o contato da nossa roupa, as sensações cenestésicas, os sinais do trânsito, uma dorzinha de cabeça, quando a nossa atenção dirigir-se para esses fatos; e
b) como elemento consciente, ou seja, enquanto se produz no âmbito da atenção.
         Quando a função, a sensibilidade representa uma passagem entre o sujeito psicológico e a realidade objetiva ou subjetiva, isto é, um ligame entre o “eu” e os objetos e suas relações. Nesta conformidade, o fenômeno se realiza de duas maneiras.
b)   como meio natural de conhecimento através dos sentidos (visão, audição, paladar, etc.), em sensações e imagens perceptíveis;
c)   como meio espontâneo de orientação do vivente na vida afetiva, em impressões sensoriais agráveis e desagradáveis (prazer e dor), no desenvolvimento das tendências inatas e das adquiridas na experiência (instinto, sentimento).   

CAPÍTULO III

OS FATOS ESSENCIAIS DO PSIQUISMO

1- CONHECIMENTO
         Considera-se conhecimento o conjunto dos processos de representação mental ou intelectual pelos quais, através dos sentidos, os objetos e suas relações são dados ao sujeito psicológico como realidades.
         São fatos fundamentais do conhecimento: os sensíveis – a sensação e a imagem; e os abstratos – a percepção e a idéia. Desenvolve-se o pensamento pelos processos: de sucessão – a associação; de relação – o juízo e o raciocínio; de evocação – a memória; e de combinação – a imaginação. São fatos essenciais do conhecimento a crença e a inteligência, o primeiro como veículo superior da identificação do cognoscente com a realidade exterior, e o outro com faculdade cognitiva no sentido ideal.




2- ELEMENTOS BÁSICOS DO CONHECIMENTO
         a) A sensação
         A sensação tem sido definida como “um fenômeno psíquico determinado pela modificação de um órgão corporal”, como “resultado da transformação no cérebro, de uma expressão originada de uma excitação”, e como um órgão dos sentidos”, etc. Configura-se um dos tipos irredutíveis da sensibilidade.
         Entendemos que a sensação é um fato psicológico sensível e subconsciente; a impressão de uma excitação nos centros cerebrais, resultante de um estímulo objetivo sobre um órgão dos sentidos.
         As sensações são formadas por conjuntos de vibrações nos órgãos receptores excitados, mas aparecem ao sujeito psicológico automaticamente esquematizadas, ou seja, transformadas em determinados sons, cores, perfumes, paladares, temperaturas e outras formas sensíveis. Contudo isso não quer dizer que a vibração molecular dos órgãos seja capaz de, por si mesmo, informar ao sujeito sobre a natureza do fato sensorial, pois são as imagens resultantes da experiência passada que proporcionam a interpretação da qualidade sensível. As sensações, portanto, são diferenciadas pelos sentidos comuns: sensações visuais, auditivas, olfativas, gustativas, táteis, cenestésicas, etc. podem ocorrer simultaneamente num mesmo indivíduo.
         b) A imagem
         Tem sido a imagem definida em formas diversas confundindo-se esse fenômeno como outros semelhantes. Encaram-na como “representações pelas quais conhecemos os objetos sensíveis, presentes ou não aos sentidos”; como “reprodução da coisa imaginada”; como “reprodução de uma sensação, na sensação do objeto”, etc.
         Consideramos a imagem um fato psicológico sensível e subconsciente provocado por uma excitação nos centros cerebrais resultantes de estímulo interno ou subjetivo. Este fenômeno constitui a reprodução de imagem semelhantes às de uma sensação de anteriormente experimentada pelo sujeito, o que ocorre, portanto, na ausência do objeto que a imagem representa na mente.
         O estímulo interno que provoca o aparecimento de uma imagem pode ser: uma sensação – cuja excitação se prolonga ou se renova automaticamente, reproduzindo efeitos sensíveis semelhantes, independentemente de novo estímulo externo; ou outra imagem. Por sucessão automática (pelo processo denominado “associação”); ou um ato voluntário, pelo qual o sujeito escolhe, reproduz e combina as representações de fatos passados, constituindo o processo denominado “imaginação”.
         c) A percepção
         A percepção tem sido definida em termos de “conhecimento” ou “reconhecimento” de um objeto, ou seja, como fato pelo qual o objeto é dado ao sujeito psicológico como realidade. Todavia muitos atores ainda admitem definições baseadas no associacionismo, segundo as quais a percepção é encarada como um composto de elementos que se reduzem a uma “síntese mental”: “um complexo de sensações” ou “um conjunto de sensações que a associação une todo homogêneo e ao qual a atenção confere clareza e nitidez”. Eis que nos deparamos com uma confusão entre característica sensíveis e abstratas. Mas torna-se evidente que “perceber é aprender o significado de um objeto sensível ou de uma estrutura”.
         d) A idéia
         Foram propostas múltiplas definições do fenômeno chamado idéia, tendo sido esta interpretação como “produto mental resultante de uma experiência ou pensamento”; “síntese mental pela qual se generaliza o dado fornecido pela percepção e se abstrai uma das qualidades particulares a muitos objetos ou ações semelhantes entre si”; “resultado de transformação, pela atividade pensante, das percepções materiais”, e outros conceitos.
         Entendemos que a idéia é uma síntese mental, consciente representativa de objeto, fato ou significação, conhecidos ou imaginados pelo sujeito psicológico. É o elemento abstrato, intuitivo e fundamental do pensamento.  

3- PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO PENSAMENTO
         a) A associação
         Define-se a associação, geralmente, como um fenômeno ou processo intelectivo que consiste nas ligações espontâneas e sucessivas de imagens e consequentemente, de idéias e estados afetivos.
         A associação caracteriza-se pela espontaneidade, o que a distingue das ligações voluntárias e refletidas peculiares à imaginação. Desde que não intervenha um estímulo ou excitação que venha atrair a atenção, ou um ato voluntário, as imagens e idéias se sucedem automaticamente, reproduzindo impressões semelhantes às que foram experimentadas pelo indivíduo no passado, em seqüências tais quais foram condicionadas, constituindo o pensamento espontâneo.
         b) O juízo e o raciocínio
         O juízo é um processo, ou operação mental, pelo qual o sujeito psicológico estabelece uma relação entre duas idéias ou entre uma percepção e uma idéia; e o raciocínio é um processo, ou operação mental, pelo qual o sujeito psicológico estabelece uma relação entre dois ou mais juízos.
         Do ponto de vista lógico, a idéia e o raciocínio são estudados apenas como resultados dessas operações mentais. Nessa conformidade, “enquanto a Psicologia se ocupa da atividade real do pensamento, a lógica atende unicamente ao produto dessa atividade, isto é, ao pensamento tomado em si mesmo”.
         c) A memória
         A memória é um fenômeno ou processo mental na faculdade de reproduzir ou evocar imagens e idéias sob forma de lembranças, ou seja, de conversar os conhecimentos adquiridos no passado.
         Certos psicólogos distinguem, na memória, as seguintes fases ou funções:
         fixação - retenção de imagens (aprender de cor);
         conservação - de impressões ou conhecimentos adquiridos;
         evocação - reprodução de imagens e idéias;
         reconhecimento – das impressões reproduzidas como fatos da experiência anterior;
         localização – no tempo e no espaço, das impressões reconhecidas.
         Costuma-se distinguir três tipos de memória: sensível, intelectiva e afetiva.
         A memória sensível é a das imagens relativas aos sentidos, a qual pode ser desdobrada em memória visual, olfativa, auditiva, etc.;
         a memória intelectiva é a das idéias, que pode ser diferenciada pela capacidade de abstração nos diversos ramos do conhecimento, como a memória matemática, histórica, filosófica; e
         a memória afetiva é a dos conhecimentos emocionais ou sentimentos, então revividos.

         d) A imaginação
         Tem sido a imaginação definida como “faculdade de se representar ou de combinar imagens de objetos ausentes reais ou possíveis”, e como “faculdade de fixar, conservar, reproduzir e combinar imagens das coisas sensíveis”. Certos psicólogos, no entanto, nem sequer focalizam a imaginação como fenômeno especial, tratando essas faculdades como meras funções do juízo, do raciocínio e da memória. Mas é certo que a imaginação tem um caráter especial e exclusivo qual seja a operação voluntária na qual o sujeito psicológico utiliza todos os processos cognitivos, que, então, aparecem como meras condições da mesma operação. Outrossim deve ser considerada a sua função construtiva, em busca de uma verdade ou de uma idéia original.
         Entendemos que a imaginação é um fenômeno ou processo psicológico que consiste numa operação mental consciente, complexa e mais ou menos demorada, pela qual o sujeito pensante, por meio da evocação e combinação voluntária de imagens e idéias conhecidas, busca uma determinada verdade ou produz uma idéia original. É uma faculdade exclusiva do ser humano inteligente.

4. os fatos essenciais do conhecimento
         a) A crença
         o termo “crença”, no sentido geral, tem sido interpretado como ação de crer na verdade, como convicção íntima, e, em filosofia, tem sido abordado com certeza da existência de um enunciado tipo como verdadeiro. A palavra “crença” também é comumente usada no sentido de fé religiosa, mas é claro que, independentemente deste conceito, aqui pretendemos tão-somente designar fenômeno cognitivo sem implicação qualquer de natureza transcendental.
         Muitos psicólogos não conferiram a devida importância ao fenômeno mental denominado crença, e, alguns deles, nem sequer o mencionaram. Na fenomenologia explicativa a crença tem sido apontada como um simples elemento ligado à percepção e ao juízo. Mas estes se reduzem a operações mentais, como meios de atingir um ato subjetivo essencial do conhecimento, que é a crença.
         O fenômeno psicológico crença é um ato consciente pelo qual o sujeito psicológico conhece o resultado lógico do próprio pensamento, em afirmação ou negação de uma realidade qualquer.
         b) A emoção
         Etimologicamente, emoção significa “movimento por causa interna”. A idéia de movimento sugerida por esse vocábulo nos induz a encarar o fenômeno objetivamente, em termos fisiológicos, tanto assim que a emoção tem sido definida como “alteração ou perturbação orgânica resultante de um fato representativo em nossa consciência”. Mas em psicologia a emoção deve ser considerada como um processo subjetivo-abstrato, sendo a excitação e a reação orgânica meros resultados ou condições em que se realiza o mesmo fenômeno.
         Entendemos que a emoção é um fato psicológico consciente, um processo mental pelo qual uma representação cognitiva (percepção, idéia, lembrança, crença) provoca impressões sensoriais afetivas e reações orgânicas mais ou menos intensas.

5- Processos de elaboração das reações
         a) O processo de condicionamento
         Considera-se processo de condicionamento a forma pela qual se elaboram as reações afetivas resultantes de estímulos condicionados. Funciona pelo mesmo mecanismo dos reflexos condicionados.
         Condicionar, em psicologia, significa, especialmente, colocar o indivíduo em uma determinada condição que o constrangeria a agir involuntariamente de uma certa maneira. Mas queremos nos referir, aqui, ao fenômeno ou mecanismo pelo qual condicionamento se processa independentemente de propósito do agente externo, ou seja, espontaneamente.
         Os estado afetivos acompanham as imagens em representações associadas por contigüidade ou por semelhança. Assim é que as impressões do passado e as maneiras concebidas de agir em face de determinados estímulos, incutidas na mente, formam as imagens que, subconscientemente, orientam a marcha do pensamento e a crença espontânea. Essa é a razão de certas atitudes por reações mais ou menos acompanhadas de atos voluntários, em que o indivíduo age sem ter consciência clara dos motivos especiais ou remotos.
         O processo de condicionamento explica a formação e o desenvolvimento dos chamados “mecanismo de defesa” e “atitudes”, de que trata a psicologia moderna. Este processo pode ser também observado nos animais, sendo aplicável, excepcionalmente, naqueles que, mesmo constrangidos, são capazes de aprender, por meio de adestramento, maneiras de reagir admiráveis.
         b) processo psicotensivo
         Na primeira deste módulo foi focalizado o sistema dinâmico sensorial como base do psiquismo individual, em referência à interação dos seus elementos integrantes a qual se realiza ora excitação ora inibindo as reações diante dos estímulos ou motivações internas ou externas. Na vida este sistema patenteia o mecanismo das emoções, quando queremos a atribuir a estas o valor do agente determinante da acumulação e da descarga de energias psicossomáticas. Esse mecanismo se opera por um processo que podemos denominar processo psicotensivo.
         Realmente, tem sido a existência de um sistema de tensões, a começar pelo plano fisiológico. As carências ou necessidades orgânicas provocando um certo desequilíbrio no meio interno, criando tensões nervosas que através da sensibilidade afetiva, impelem o indivíduo para uma ação no sentido de satisfazer a tendência orgânica. Deste modo desenvolvem-se os apetites (fome, sede, sono, etc.). Essas tensões descarregam-se à medida em que são satisfeitas as necessidades e, assim, se restabelece o equilíbrio. Foi adotado o termo “homeostase” para designar o processo de equilíbrio que, em psicologia, depende, principalmente, das relações do indivíduo com o meio social, responsáveis pela maior parte parcela de modificações no “tono” efetiva.
         O mecanismo emocional desenvolve-se pelo processo psicotensivo, a partir de uma representação mental ou, mais precisamente, a partir de uma crença, positiva ou negativa, que, com veículo de identificação do cognoscente com a realidade exterior, desempenha papel mais importante.

5- OS FATOS ESSENCIAIS DA AFETIVIDADE
         a) As tendências inatas
         As tendências inatas, também tendências primárias ou instintivas, derivam da propensão fundamental que possuem os seres animados de se conservarem e se expandirem, adaptando-se ao meio em que vivem, bem como das necessidade fisiológicas e psicológicas do indivíduo.
         Essa noção abrange as diversas manifestações do instinto, geralmente observadas nos animais, e que no homem aparecem modificadas pelo uso da razão.
         A predisposição inata do indivíduo para determinadas atividades ou atitudes resulta de combinação específicas de padrões nervosos e excitantes, correspondentes a mecanismos hereditários que funcionam oportuna e automaticamente desde que intervenham estímulos apropriados, independentemente de aprendizagem.
         b) As tendências adquiridas
         As tendências adquiridas, também chamadas tendências secundárias, são constituídas de complexos de tendências fundamentais influenciadas ou modificadas pelo processo de condicionamento espontâneo, ou seja, por aprendizagem, no decorrer da experiência individual.      
         Podem as tendências adquiridas ser classificadas, em relação ao caráter individual, como complexos instintivos, sentimentos e formas acidentais.
         b.1) Chamamos complexos instintivos, as tendências formadas ou adquiridas irracionalmente pelo processo de condicionamento natural, peculiares aos animais superiores. É possível distinguir fenômenos desta ordem no ser humano, desde que se possa provar que os mesmos tenham sido adquiridos em certas experiências passadas sem interferência do raciocínio.
         b.2) O sentimento tem sido definido como um “complexo de tendências primárias” e como “uma tendência adquirida sob a forma de aprendizagem, pelo exercício da razão, constituindo um estado afetivo mais ou menos duradouro”. Vulgarmente, o sentimento é um ato ou afeito em relação a um determinado objeto.
         O sentimento, como tendência adquirida, é um fenômeno abstrato podendo, todavia, ser encarado como uma forma sensorial efetivo, matizada pelas imagens que lhe emprestam uma qualidade: o sentimento de saudade, por exemplo, consiste numa impressão mais ou menos  dolorosa e duradoura, motivada por imagens-lembranças de um amor ausente ou de uma situação passada.  
         Classificam-se os sentimentos, tradicionalmente, três grupos:
         sentimentos egoístas – o orgulho, a ambição, o ciúme, a vaidade, o amor próprio, etc.;
         sentimentos altruístas – a lealdade, gratidão, a solidariedade, o amor a alguém, etc.
         sentimentos intelectuais – o amor à justiça, à verdade, o repúdio á falsidade, etc.;
         sentimentos estéticos – o amor ao belo, o horror ao feio, e outros, desde que se relacionem às impressões visuais ou auditivas;
         sentimentos éticos – a vergonha, a vaidade, a honestidade, e outros compreendidos no sentido moral; e
         sentimentos religiosos a veneração, a fé, a resignação e outros relacionamentos à divindade.
         Os sentimentos podem ser cultivados ou reprimidos, mediante esclarecimentos educativos ou descondicionamentos apropriados. Assim, todo indivíduo, por mais ignorante ou pervertido que pareça, ressalvados os casos patológicos, é possível de recuperação moral, o que depende das circunstâncias e dos meios educacionais. O sentido ideal, os sentimentos que valorizam o caráter constitui o patrimônio afetivo-moral orientador das atividades do ser humano.
         Como formas acidentais das tendências adquiridas ou sentimentos, distingue-se a inclinação e a paixão.
         A inclinação é uma tendência predominante num indivíduo. Pode ser a inclinação ser sensorial, quando tende ao uso de um bem ou mal sensível, e intelectual, quando se orienta do sentido da verdade, do bem, do bem, ou negativamente, para a mentira para o mal e para o feio.
         A paixão é um sentimento exagerado ou impetuoso, elevado a alto grau de intensidade, dirigido a determinado objeto. Pode ser racional, quando há equilíbrio moral, ou obsessiva, quando ela é cega (o indivíduo só vê o objeto da paixão).



CAPÍTULO IV

ESTRUTURAS FENOMENOLÓGICAS

1. A PERSONALIDADE
         A personalidade tem sido alvo de inúmeras definições, em razão de variadas concepções filosóficas. Alguns pensadores e psicólogos a consideram como uma aparência exterior do indivíduo, outros como o conjunto de fenômeno ou de elementos heterogêneos. As teorias se desdobram entre fenomenistas e substancialistas. Na Psicologia Moderna a personalidade é encarada como uma organização estrutural.
         A personalidade ou pessoa (termos que se identificam em Psicologia Científica) é uma realidade subjetiva, uma síntese integral do psiquismo no ser humano, uma organização estrutural que se abstrai do conjunto das disposições psicológicas e fisiológicas, tanto as genéricas como as obtidas na vivência do indivíduo. Representa o próprio sujeito psicológico revestido de qualidades sensíveis e abstratas, e de propriedades a ele inerentes, (sente, pensa e age), condicionadas ao organismo, formando um todo indivisível. A formação da personalidade depende de fatores orgânicos, psíquicos, culturais e sociais, definindo-se exclusivamente no indivíduo dotado de razão.
         Na estrutura da personalidade podem-se distinguir, pelos seus valores e como fatores determinados de ação de expressão, a constituição, o temperamento e o caráter.   
         a) A constituição
         Dá-se o nome de constituição ao aspecto físico-morfológico da personalidade, representando a estrutura do corpo humano. Abstrai-se do conjunto das qualidades e propriedades somáticas (morfológicas e fisioquímicas, transmitidas pela herança e modificadas por influências ambientais) relacionadas ao psiquismo pessoal.
         A constituição somática, representando um aspecto da pessoa, abrange a postura, o estilo dos seus gestos e movimentos que constituem formas reativas estreitamente ligadas ao psiquismo. Esse aspecto resulta da interação entre os fatores inatos e os adquiridos na vivência do indivíduo.
         Do estudo da constituição originou-se a biotipologia, que investiga as relações entre os diferentes tipos somáticos e os psíquicos humanos, considerando-se que certas formas individuais relacionam-se com determinadas características mentais.
         “A biotipologia restringe-se ao conforto entre a forma física (visual) ou figura humana e o caráter, senão haveria de ultrapassar o seu objeto formal e penetrar no reduto de outras disciplinas biológicas” (Jolivt).
         Parece não existir acordo entre os psicólogos ou biotipólogos quanto a classificação dos tipos de constituição. Sabe-se, no entanto, que as escolas francesas, alemãs e italianas assim os distinguem:
·                    escola francesa – tipos digestivo, respiratório, muscular e nervoso (segundo o predomínio das respectivas formas aparentes);
·                    escola alemã tipo astênico ou leptossômico (estrutura estreita, com predomínio das formas verticais), tipo atlético ou muscular(desenvolvido muscular e ósseo), tipo displástico (formas anormais em geral) e tipo pínico (obesos com acentuadas, cavidades viscerais e membros curtos); e      
·                    escola italiana – tipo normosplânico (formas equilibradas), tipo microsplânico (tronco curto e extremidades largas) e tipo megalosplânico (tronco grande e extremidades curtas).
         Outras escolas dividem os tipos anatômicos apenas pela predominância morfológica da cabeça (semelhante a losango, triângulo, quadrado, oval).
         Permanecem imprecisas ou duvidosas as relações de todos esses tipos com as disposições psíquicas do indivíduo. Mas sucesso tem obtido as teorias fundadas na observação dos tipos de expressões fisionômicas estáveis, que podem ter sido plasmadas pelas experiências emocionais do passado.
         b) O temperamento
         O temperamento é o conjunto das disposições efetivas-impulsivas, pelo qual se define a reatividade particular de cada indivíduo, as predominantes maneiras de agir em face dos acontecimentos e circunstâncias do meio externo. A característica fundamental do temperamento e a origem ou a influência fisiológica: as reações temperamentais são devidas, principalmente, aos impulsos condicionados pelas glândulas de secreção interna (também chamadas secretoras ou endócrinas) e pouco dependem de fatores psicológicos. Outros sistemas orgânicos influem na intensidade das reações. Por isso certos autores dizem que o temperamento “é o aspecto fisiológico-endócrino da personalidade”, “é a característica dinâmica do indivíduo” e “constitui a resultante funcional direta da constituição somática”.
         As reações temperamentais apresentam maior intensidade nos casos de prolongada. Insatisfação dos apetites, quando são inibidas as descargas de energia acumulada, conforme o grau de excitabilidade ou de fatigabilidade do sistema nervoso. O imperfeito funcionamento das glândulas e de outros órgãos também muito concorre para o desencadeamento dos estados temperamentais: uma infecção do fígado quase sempre produz o mau humor e a tristeza; um distúrbio tireodeano pode causar a apatia; outras anormalidades orgânicas podem determinar atitudes de alegria, de tristeza, de inconstância, de rancor, de introversão ou de extroversão, de sensibilidade ou frialdade, etc. A cenestesia influi consideravelmente sobre o tônus afetivo.
         c) O caráter
         O caráter é o conjunto das disposições psíquicas pelas quais se define a reatividade particular de cada pessoa, ou seja, a sua atitude ou maneira original de ação e de expressão em face das solicitações do meio físico e social. É o aspecto psíquico da personalidade. Do ponto de vista moral, o caráter representa conduta voluntária do homem diante dos valores que orientam a sua personalidade.
         É muita estreita a relação entre o caráter e a personalidade, pelo que muitas pessoas, na linguagem comum, os confundem, a ponto de empregar esses dois termos sinônimos: Diz-se que um indivíduo tem personalidade quando quer referir ao caráter, e vice-versa. Parece que estas confusões se estende aos meios científicos, tanto assim que as classificações propostas, sem grande sucesso, correspondem igualmente à personalidade e ao caráter. Mas convém observar que a personalidade abrange a vida psíquica total do indivíduo – o conjunto de fatores, tendências, funções, atributos relacionados ao psiquismo, enquanto o caráter refere-se apenas ao aspecto psíquico adquirido pela experiência, sem levar em conta os fatores constitucionais e temperamentais.
         No consenso geral, a formação ou modelação do caráter resulta da combinação de duas ordens de fatores: os fatores inatos, representados pelo conjunto das disposições hereditárias (tendências instintivas); e os fatores adquiridos, compreendendo as disposições modificadas ou influenciadas pelas solicitações do meio físico e social. As disposições inatas arraigadas no organismo pouco modificam, mas as adquiridas pelo hábito, que integram o caráter, são moldáveis pela educação, principalmente com boa vontade e esforço pessoal.
         Em diferentes classificações têm sido apontados os seguintes tipos de caráter:
a)    Sensitivos, ativos, apáticos e mistos (Ribot);
b)   Introvertidos e extrovertidos (Jung);      
c)    Equilibrados, vacilantes, dominados, refletidos, impulsivos e compostos (Paulhan);
d)   Intelectivos, sensitivos, volitivos (Fouillé); e
e)    Nascísicos e eróticos (Freud).   

CAPÍTULO V

NOÇÕES DE PSICANÁLISE

         A psicanálise, cujas teorias, concebidas pelo psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939), vieram lançar novas luzes à Psicologia Moderna, fundamenta-se na pesquisa a análise das causas profundas, de natureza inconsciente, das desordens psicofuncionais, estabelecendo métodos especiais de tratamento.

         a) A estrutura psicodinâmica
         Para a melhor compreensão da processologia psicanalítica, convêm antes, através de uma imagem visual, proceder-se a uma acurada observação ou comparação entre os estados ou graus de consciência, os elementos do sistema dinâmico-sensorial e os fatos de conhecimentos e de afetividade. Embora o psiquismo não possa ser submetido às leis da extensão, têm sido inúmeras as tentativas de sistematizar a sua estrutura em formas gráficas. Apresenta-se, assim, a consciência divina em “zonas” onde se operam os fenômenos, enquanto são reduzidos a mecanismos e conteúdos, como elementos em luta, interações, bloqueios, compressões, cargas e descargas, materializando-se, simbolicamente, fenômenos inextensos, sensíveis ou puramente abstratos, visando torná-los inteligíveis.
         A consciência é representada por zonas circulares concêntricas:
         C-V = A zona externa simboliza o Consciente e a Vontade. Trata-se da consciência clara, nos seus graus mais elevados, também chamadas consciência supraliminar. É onde se operam os fenômenos psicológicos sob o controle seletivo da atenção. É o âmbito da sensibilidade nítida, das percepções, idéias, juízos, lembranças, imaginação, crença e emoções em atos de repressão ou de liberação dos impulsos, os quais quando irrefletidos, podem ser atribuídos ou subconsciente.
         S-H = A zona intermediária, o Subconsciente, também chamado pré-consciente e consciente liminar. É o reduto do Hábito e da sensibilidade confusa ou não claramente percebida, tal como nas sensações e imagens, em função das tendências adquiridas ou sentimentos latentes, inerentes ao caráter.
         I-A = A zona central significa o Inconsciente, também denominado consciência subliminar. É a fonte simbólica do Automatismo, a sede genética dos fenômenos em potência, o domínio do virtual, das tendências instintivas, das representações mentais remotas e esquecidas e dificilmente evocadas, dos sentimentos recalcados.
         S-R = Indicam o movimento entre o estímulos externos (Stimuli) e as Respostas que se refletem no comportamento individual.
         b) A dinâmica subliminar
         Freud procurou demonstrar o mecanismo psicológico em razão do processo psicanalista, conforme o seguinte esquema: (Jolivet)
         Elementos psíquicos não-conscientes
         Distingue no campo da consciência três partes simbólicas:
·         o Ego, que se compõe dos elementos conscientes e preconscientes;
·         o Super-ego, que é constituído pelo “inconsciente-recalcante” e;
·         o Id, que representa o “inconsciente-recalcado”.
         A psicanálise procura explicar todo esse processo, em suma, do seguinte modo:
         a) A consciência é o teatro de um conflito irredutível entre tendências instintivas (impulsos naturais) e tendências adquiridas que se traduzem em sentimentos refreantes, formados pelas convenções sociais, pelo respeito às autoridades, pelo temor dos mais fortes, etc.
         b) O conflito é uma luta mental entre duas exigências internas (instintos, desejos, aspirações) ou externas (solicitações e pressões do meio ambiente), ou entre ambas, desde que se tornem incompatíveis pela razão individual.
         c) Desempenha um papel importante no teatro da consciência a frustração, que consiste na experiência de privação e desânimo, quando o indivíduo não encontrou aquilo que muito desejava, a sua espera foi enganada e os seus esforços ludibriados, ou perderam algo muito importante.
         d) Entre preconsciente e o inconsciente (super-ego) há uma espécie de censura que “bloqueia” a passagem (ou satisfação) das tendências que parecem contrárias aos desejos conscientes do indivíduo m face das convenções sociais de ordem moral, religiosa e outras.
         e) A repressão, transformada em hábito, constitui o recalque, um “processo de defesa” subconsciente, que consiste em evitar, afastar, repelir, fugir e manter fora da percepção consciente as idéias ou lembranças desagradáveis ou dolorosas que, assim, ficam esquecidas.
         g) As tendências reprimidas ou recalcadas continuam a viver no inconsciente (no Id), mas exprimem-se sob formas simbólicas, à medida dos novos estímulos, buscando a satisfação de maneira constante.
         O recalque não ocorre apenas nos casos de conflitos e frustrações sentimentais refletidos. Um choque emocional muito forte ou uma experiência traumática aterradora, principalmente quando acontece a uma criança, pode causar uma fuga inconsciente da pena, em tão grande proporção que o indivíduo fica mudo e ou esquece totalmente o seu passado, até mesmo o próprio nome. (amnésia).
         h) Chama-se mecanismo de defesa o conjunto de processos internos e forma de reação que permite a proteção da auto-imagem (ou do ego). Esses processos caracterizam-se pela fuga subconsciente de uma situação indesejável e pela inconsciência dos motivos remotos e exprimem determinadas atitudes ou modos de agir. São considerados como formas derivados do recalque.           
         Os processos de defesa mais importantes são os seguintes:
         Sublimação ­ - impulso primitivo que exterioriza-se de forma diferente, dirigindo-se a uma meta socialmente aceitável; a repressão de um desejo proibido transforma-se num forte sentimento virtuoso.
         Projeção – o indivíduo exterioriza, atribuindo a outros os traços de caráter, atitudes e desejos ocultos que lhe são peculiares, mas que ele repele e censura.
         Formação reativa – repressão de um impulso particularmente forte, seguida por uma tendência contrária: um indivíduo inclinado para o roubo torna-se um perseguidor de ladrões; uma mulher puritana, mas propensa à sensualidade, condena persistentemente as meretrizes.
         Racionalização – o indivíduo justifica e explica a si próprio e outras pessoas uma idéia, um sentimento ou um comportamento que implica ou contenha erro, visando manter auto-respeito e evitar o sentimento de culpa.
         Isolamento – o indivíduo isola um, dentre vários motivos de um conflito, fazendo uma redução das interações surgidas, procurando, subconscientemente, afastar as imagens e idéias perturbadoras.
         Fantasia – satisfação imaginária ou ilusória dos desejos que não se podem realizar.
         Fixação – acentuada indisposição no indivíduo para manter o desenvolvimento normal da personalidade, que estaciona, como resultado de uma frustração exagerada ou de uma satisfação excessiva ocorrida no passado (durante a infância), podendo continuar provocando experiências de alívio ou de ansiedades aumentadas.
         Regressão – a personalidade volta a um nível inferior de integração, ajuste de expressão: um adulto utiliza mecanismos infantis, retornando a um estágio já ultrapassado de sua evolução psíquica.
         Identificação – o indivíduo liga-se a outrem, assemelhando-se no comportamento.
         Restrição do ego – retirada da auto-imagem de uma situação angustiante, com tentativa de realizar-se no mundo do fingimento, procurando com isso, subconscientemente, reduzir as tensões desagradáveis.
         Negativismo – os desejos, atos e fatos subconscientemente intoleráveis são descartados por meio de negação da sua existência: um criminoso, mais ou menos esquecido da sua desdita, considera-se um inocente; um indivíduo, ilusoriamente, não acredita numa desgraça evidente; um pecador contumaz propaga, com afinco, a inexistência do inferno.
         Compensação – esforço para superar a inferioridade, real ou imaginário , em relação aos valores sociais, com satisfação fictícia: uma pessoa rude ou de cultura insuficiente faz-se agressiva, dominadora e orgulhosa, visando a liderança de um grupo familiar, profissional, artístico, político, etc.
         Os conflitos e frustrações fundamentais, principalmente durante a infância, podem formar agrupamentos psíquicos que se reduzem a um conjunto estruturado de atributos pessoais, denominados complexo, do qual se destacam as seguintes formas:
         Complexo de Édipo – apego erótico e excessivo do filho em relação à mãe, e, paralelamente, velados ciúmes em relação ao pai;
         Complexo de Eletra – exagerado afeto da filha ao pai, encarando simultaneamente a mãe como uma rival;
         Complexo de castração – impotência ou frustração sexual de origem psíquica;
         Complexo de inferioridade – fictício sentimento de incapacidade para enfrentar os problemas familiares, sociais e outros, e de competir com outras pessoas em qualquer empreendimento;
         Complexo de superioridade – falso sentimento de autovalorização, julgando-se superior aos outros, sem que na realidade seja; e
         Complexo de culpa – exagerado ou injustificável reconhecimento de haver cometido um determinado erro, de não haver cumprido certa obrigação de ordem moral ou social.
         Essas teorias foram rejeitadas por muitos psicólogos no tocante à feição erótica. Freud reduzia as tendências instintivas a um substrato fundamental, apresentando a libido (instinto sexual) como fator essencial ou exclusivo dos complexos, dos recalques e da ansiedade.
         c) A ansiedade e angústia
         Segundo o que tem sido demonstrado através de credenciadas publicações médicas, ultimamente, a maioria das pessoas nos grandes centros urbanos sofre ansiedade ou angústia, enfrentando problemas de tensão, em conseqüência das dificuldades e perigos do meio ambiente agitado em que vivem, e, desta parte de sofredores, apenas uma pequena maioria procura socorro médico, dirigindo-se principalmente ao clínico geral, com queixas físicas reais ou imaginárias. Foi divulgado, também, que, por outro lado, “os médicos classificam como funcionais cerca de 30% dos seus pacientes”, conforme pesquisas de opinião. “Este tipo de paciente identifica-se pela característica comum de não pertencer a qualquer quadro patológico orgânico, clássico, de desafiar as investigações clínicas e laboratoriais mais avançadas de irritar o médico como fracasso das diversas terapêuticas”. Embora se façam eficazes certos paliativos ou pareça normalizar-se alguma função secundária, persiste, na maioria dos casos “um estado cuja expressão somática é difusa e variável, fato comprovado pela modificação dos sintomas, que também variam de localização a cada consulta”. Foi publicado, ainda, que, “pelo menos 50% de todos os casos clínicos ou cirúrgicos tratados em consultórios e hospitais nos Estados Unidos apresentam complicações psicofuncionais”. Parece certo, pois, nessa conjuntura, que o psiquismo tem realmente o papel fundamental.
         A ansiedade e a angústia são consideradas fenômenos semelhantes, distinguindo-se, a primeira, como menos aguda e mais habitual, e a outra, como a experiência mais trágica (crise) designando especialmente as manifestações somáticas que acompanham a ansiedade.
         A ansiedade revela-se, comumente, por um comportamento característico, ou seja, por certas atitudes inadequadas de desajustamento da personalidade, ora impetuosas, ora deprimentes, salientando-se a presença da agressividade descabida ou de medo irracional, às vezes dissimulado. Dessas manifestações gerais deveriam outras inerentes ao relacionamento social, que podem ser: irritabilidade fácil; hostilidade injustificável, principalmente visando determinada pessoa, fato ou situação; frigidez sexual; ciúme doentio; caprichos; isolamento voluntarioso; incomunicabilidade orgulhosa; sentimentos de solidão e de insegurança; receios incoerentes; paixões absurdas; acessos de cólera; crises nervosas; e, até, situações de desespero, nos casos mais graves. Tais manifestações variam de intensidade e qualidade, conforme as oscilações da consciência, permitindo ao indivíduo, no entanto, momentos ou períodos de aparente normalidade, isso dependendo, também, da maior ou menor capacidade de suportar a tensão.
         Freud classificou a ansiedade (quanto a sua origem) em três tipos:
    
·         Ansiedade moral – quando decorre da censura do superego, como, por exemplo, uma vergonha de haver praticado uma ação desonesta, ou de um sentimento incoerente de culpa;
·         Ansiedade real – quando resulta da percepção antecipada de um período real, como de uma pessoa que reside em um local inseguro e vive em estado de tensão e temor de ser assaltada por bandidos; e
·         Ansiedade neurótica – quando a sensação de perigo decorre de insatisfação de instintos e desejos reprimidos, provocando perturbações funcionais, comprometendo o sistema nervoso.
         O mecanismo da ansiedade compreende os seguintes elementos:
     a) Cognitivo – representações mentais, que se reduzem a uma crença desfavorável da tendência estimulada;
     b) Sensorial – afetivo – impressões desagradáveis ou dolorosa, em geral de medo ou de cólera;
     c) Ego-reativo – esforço metal para escapar ou enfrentar uma situação penosa, difícil ou perigosa;
     d) Dinâmico-volitivo - vontade constrangida, por pressão externa ou por capricho, constituindo a repressão;       
     e) Psicotensivo – aumento simultâneo de tensão psíquica e contração muscular; e
     f) Patológico – distúrbios psicossomático ou neuroses, decorrentes de prolongadas situações de stress emocional.
         d) A psicoterapia
         Define-se a psicoterapia como o tratamento dos problemas e transtornos mentais por meios psicológicos. Esta noção abrange a intervenção coadjuvante no organismo mediante exercícios ou com acessórios físicos.
         Distinguem-se três formas gerais de psicoterapias: individual, coletiva (ou de grupo) e institucional (realizada em “casas de saúde” ou instituições de tratamento psiquiátrico).
         Apresentaremos algumas noções sobre os métodos especiais mais adotados, exclusiva parcial ou conjuntamente, na psicoterapia individual, como se segue.

1- MÉTODO ANALÍTICO
   
         Este método, em que se fundam todos os outros, consiste nas formas de tratamento em que se faz um esforço intencional de análise ou “dissecação” do psiquismo no indivíduo, visando-se, basicamente, a rememorização da cena ou de fatos passados e reprimidos, causadores das perturbações. O objeto mais importante deste método é obter a cura por meio de “catarsis” (ao nível de pura confissão), bem como a “transferência” (de impulsos e sentimentos) e a educação da personalidade pela “tomada de consciência” e integração psicológica dos fatos vividos.

2- MÉTODO CATÁRTICO
  
         Baseando-se na rememorização dos fatos causadores da enfermidade, o método catártico visa eliminar as perturbações psíquicas ou neuroses, principalmente através da provocação de uma explosão emocional denominada “ab-reação”, na qual o paciente manifesta-se colérico e agressivo ou bastante excitado com lamentações, lágrimas, etc. Trata-se, portanto, de um processo de descarga de tensão psíquica afetiva. Muitos consideram a “ab-reação” um “processo de eliminação e esquecimento de uma experiência traumatizante, pela revivência de palavras, ações ou sentimentos”.
         Realmente, o paciente, provocado pelo analista, começa a excitar-se a surgir qualquer sinal ou lembrança ligada ao motivo do recalque, visto que no seu subconsciente perdura o desejo do esquecimento da situação traumatizante do passado. Mas é imprescindível a deflagração da descarga emotiva (uma espécie de desabafo), sem a qual não advém a cura. Parece mais importante, ainda ajudar o paciente a obter o controle emocional, pelo esclarecimento, de modo a afastar a antiga convicção ou preconceito (crença automatizada) que bloqueia o escape, impedindo a liberação. Em ação complementar o terapeuta deve conduzir o paciente ao pleno desenvolvimento expansivo, para reintegração da sua personalidade. Este trabalho pode estender-se por longo tempo, tudo dependendo desde o início do tratamento, da crença do indivíduo na própria enfermidade, no papel do psicanalista, nos esclarecimentos que esse possa oferecer no tocante à satisfação das tendências reprimidas e no sentido de contornar convenientemente, os obstáculos refreantes. (A terapêutica, aqui, pode colidir com a moral, sendo preferível respeitar os sentimentos positivos neste sentido).

3. MÉTODO HIPNÓTICO

         A psicoterapia hipnótica compreende as diversas modalidades de tratamento que tem em comum provocar no paciente uma sonolência artificial (hipnose) ou estados muito próximos ao sono onírico. Na aplicação desse método pode ser empregado qualquer processo específico, conforme o grau de sonolência, no que tange ao relaxamento, sonho éveillé e narcoanálise, de modo simultâneo ou coadjuvante. 
         A hipnose pode ser provocada por medicamento ou por sugestão e caracteriza-se, segundo Myra Lopes, por uma inibição do córtex cerebral que produz o sono seletivo: paciente reage exclusivamente aos estímulos dados pelo hipnotizador. Na psicoterapia hipnótica o tratamento pode ser feito de suas maneiras: por hipnose – em que o estado de sonolência artificial atua como elemento de cura como elemento de cura; e sob hipnose – durante o qual o tratamento se processa por sugestão direta, suprimindo os sintomas doentios, ou indireta, provocando uma tomada de consciência, por ab-reação ou análise posterior em estado consciente.
         Na psicoterapia hipnótica há certas desvantagens e riscos a evitar: pode levar o indivíduo a uma completa submissão ao terapeuta, tornando-se incapaz de resolver sozinho os seus problemas; e a substituição dos sintomas anteriores por outros provenientes da hipnose.
         Alguns pacientes parecem refratários à hipnose, havendo contra-indicações nos casos de asma, hipertensão, e outros.

4- MÉTODO DE RELAXAMENTO

         Este método consiste no tratamento por ação direta sobre as funções musculares e vegetativas do organismo, visando proporcionar um descanso físico e mental no indivíduo, para eliminar o trauma psicofisiológico produzido hipertensão neuromuscular ou pela hipotensão que se traduz por neurastenia.
         Ultimamente, nos casos de menor gravidade ou como ação preventiva ou atenuante contra a ansiedade, tem sido adotada uma modalidade muito simples de relaxamento, por meio de exercícios suavizantes, lentos e progressivos, durante os quais o indivíduo, em posição cômoda (decúbito dorsal), mantêm o esticamento de certos músculos, por espaços intermitentes de um a dois minutos, enquanto, por iguais espaços de tempo, relaxa completamente mesmo músculo. Essa prática pode começar por uma perna, depois por outra, e sucessivamente, em um braço, em outro, de um lado da nuca, etc. em cada um dos atos de relaxamento o praticante, conscientizado dos mesmos, por auto-sugestão, forma imagens mentais do objetivo a atingir. Para obter a tranqüilidade, por exemplo, deve ele repetir ou manter em atenção idéias com estas: -“minha perna direita está em suave descanso”; “estou bastante tranqüilo” e outras, oportunamente. (Isto favorece a auto-sugestão que, no caso, substitui a hipnose). Em ações alternadas com aquelas, o indivíduo procede de modo semelhante em relação aos movimentos respiratórios, considerados da maior importância. Essa modalidade de tratamento é muito fácil e eficaz, além disso dispensa a presença do terapeuta durante a sua prática.
         Nos casos de angústia ou neuroses mais acentuadas, as técnicas de relaxamento acima explicadas podem exigir a adoção de medidas mais complexas ou métodos especiais que possam favorecer a ab-reação ou catarse.    

6- MÉTODO DE “SONHO-ÉVEILLE”

         Este método, também chamado “sonho-acordado”, refere ao tratamento dos distúrbios psicossomáticos mediante devaneio dirigido pelo terapeuta. O devaneio é uma espécie de sonolência artificial aproximada da hipnose, com a diferença de que, nesta modalidade, o indivíduo não fica totalmente alheio à realidade presente nem submisso aos estímulos, que devem servir apenas para provocar a associação de imagens e idéias relacionadas com o passado sofredor.
         O paciente, colocado em decúbito dorsal e de olho fechado, é orientado no sentido de relaxamento físico e mental, sendo-lhe então sugerida uma imagem qualquer, para provocar associação espontânea com outras imagens que serão externadas verbalmente e sem escrúpulos (o paciente deve confiar na discrição do terapeuta). Estas imagens podem ser banais, incoerentes, simbólicas, místicas e absurdas, porém sempre revelam um potencial afetivo. Por elas ser percebida a participação do paciente nos fatos revividos no sonho-acordado. Essas particularidades são anotadas, para efeito de comparação e análise posterior, tendo-se em vista as medidas a serem tomadas na sessão seguinte. Na oportunidade de cada devaneio o paciente deve ser orientado no sentido de imaginar-se “subindo” ou descendo”, ou “deslocando-se” em várias direções. Depois deverá “executar” ou imaginar as mesmas etapas em sentidos inversos. Esta prática favorece o rompimento do bloqueio das imagens recalcadas.

7- MÉTODO DE NARCOANÁLISE

         Trata-se, neste método, da aplicação de produto químico (narcótico) capaz de produzir efeitos psicológicos semelhantes a um estado hipnótico de curta duração. Esta modalidade tem sido praticada, subsidiariamente, isto é, com recurso auxiliar de outros métodos psicoterapêuticos. Visa, notadamente, obter modificações de ordem psíquica, com efeito sedativo geral e diminuição temporária das defesas ou resistências recalcantes. Isto provoca a extroversão de fatos obscurecidos, facilitando a ab-reação, que pode deflagrar-se mesmo quando o indivíduo desperta, após o efeito crítico do produto narcotizante.

CAPÍTULO VI

O COMPORTAMENTO E A VOLIÇÃO

         Constitui o cerne da curiosidade científica, no âmbito da Psicologia, o afã de descobrir as verdadeiras causas e leis que regem a vida mental do indivíduo, ou seja, de saber como realmente funciona a engrenagem subjetiva diretamente responsável pelo comportamento do ser humano na sua peculiar luta pela subsistência e em busca da felicidade. É que um perspectiva de resultados decepcionantes parece comprometer o destino da humanidade, haja vista ao elevado índice de violências individuais e coletivas, as demandas e injustiças sociais, ao exorbitante poderio armamentista, tudo isso representando uma série ameaça de trágico desfecho no drama mundial.

1- AS ORIGENS DO COMPORTAMENTO

         A Psicologia do comportamento, segundo a opinião da maioria dos psicólogos e pesquisadores, é deveras insuficiente para explicar as origens do seu objeto científico, visto que estuda somente as manifestações e reações visíveis (sensíveis ou objetivas) do indivíduo, isto representando apenas os efeitos do psiquismo. Por essa razão a Psicologia Moderna ou Experimental voltou a estudar a natureza humana, passando-se a considerar como “conduta” as estruturas internas ou mentais somadas ao conjunto das manifestações e reações externas que representam o comportamento.
         Efetivamente, toda forma de conduta humana pode ser atribuída a séries simultâneas de fatores heterogêneos: subjetivos e objetivos – psíquicos, orgânicos, hereditários ou adquiridos pela experiência, sócio-mentais e físico-ambientais. Contudo é possível divisar entre esses fatores uma causa principal, isto é, aquilo que mais tenha concorrido para um determinado comportamento, normal ou anormal. Nessa conformidade, podem esses fatores ou motivações ser classificados em quatro tipos distintos, quais sejam: o fator psíquico, o orgânico, o sócio-mental e o físico. Os dois primeiros são inerentes à estrutura psicossomática individual, e os outros dois representam as influências ou estímulos externos.

         a) Fator psíquico
        
         Este fator corresponde às motivações propriamente ditas, que se caracterizam pela origem interna, pelo dinamismo proveniente das decisões tomadas pelo indivíduo (que podem ser favoráveis ou contrárias aos influxos automáticos e aos externos) em função de elementos cognitivos e efetivos. As motivações, portanto, são essencialmente psíquicas e revelam-se por atos voluntários mais ou menos conscientes. A crença, habitual ou racionada, fundada em imagens e idéias pessoais elaboradas, é quase sempre responsável pela qualidade e intensidade das excitações e reações que incitam o comportamento.
         O fator ou motivação interna pode ser:
         cognitivo (ou racional) – o que alguns psicólogos tratam como “motivos” para significar razões de agir ou argumentos de ordem consciente, próprios da inteligência; ou
         afetivo – o que eles chamam “móbeis”, para designar as causas do tipo impulsivo ou passional, relacionadas com as origens inconscientes do comportamento, também chamadas “forças irracionais”, que se operam pela vontade irrefletida.

         b) Fator orgânico

         O fator orgânico compreende os caracteres somáticos que condicionam a vida psíquica do indivíduo, com sejam: as disposições constitucionais hereditárias e as modificadas por ação externa; as excitações e incitações fisiológicas no meio interno, que se manifestam pela cenestesia e pelos apetites reveladores das necessidades orgânicas; as condições fisiopatológicas; os defeitos corporais, etc. O fator orgânico pode ser genético ou adquirido: o primeiro, quando traduz caracteres de hereditariedade (anatômicos, citológicos, funcionais), e o outro, quando se refere a disposições fisiológicas modificadas pelos estímulos externos.

         c) Fator sócio-mental
        
         É o que representa o psiquismo externo, ou seja, as influências da subjetividade exterior, cujas formas são apreendidas pelo indivíduo através do conhecimento dos fatos relacionados com a vida social, a partir do convívio familiar, tais como: os moldes educativos, a atmosfera social, as tradições, os costumes, as leis, as crenças, as superstições, etc.

         d) Fator físico
        
         Este fator compreende os estímulos externos de ordem física (exteriores ao corpo), quais sejam: as coisas, os vegetais, os animais e as pessoas físicas (atração sexual); as condições climáticas, alimentares; a poluição aérea, sonora; as calamidades materiais, etc. O fator físico externo influi diretamente no organismo, e, indiretamente, na vida psíquica do indivíduo, através dos sentidos.

2- AS ATITUDES

         Os psicólogos modernos chamaram atitude, no indivíduo, as “disposições habituais, ou em grande parte adquiridas para reagir de uma certa maneira em face das situações, das pessoas ou objetos do seu meio”. Alguns deles adotaram o termo “atitude” também para significar “traço de caráter”, “postura do corpo”, “tendência para determinado comportamento”, enfim, todas as formas habituais que menos dependam das disposições temperamentais e da constituição somática.
         Realmente, todas as pessoas notadamente em face das dificuldades da existência, adquirem maneiras características de reagir. Comumente observamos no comportamento dos nossos parentes, amigos e outras pessoas na vida pública, que cada um deles possui uma índole particular, e por isso dizemos: que Fulano é tímido ou introvertido; que Sicrano é agressivo, sagaz ou intrépido; que Beltrano é irresoluto e inquieto. Mesmo entre irmãos consangüíneos e educados em relação ao comportamento característico.
         Cada atitude ou maneira particular de agir resulta de séries de fatores heterogêneos, mas em determinados casos, podem-se distinguir a causa principal, como seja, o fato, a pessoa ou objeto, que mais tenha influído na formação de certa atitude. É na esfera racional ou educativa, com implicações sócio-mentais, que mais se descobrem os motivos ou causas de uma inclinação habitual para agir de certa forma. É nessa orbe, também, que mais se encontram os meios capazes de descondicionar tendências desajustadas inerentes as atitudes inadequadas ao desenvolvimento normal da personalidade.             


BIBLIOGRAFIA


- Bruno, Afonso. Sinopse de Psicologia geral. Fortaleza:
       Secretaria de Cultura e Desporto, 1986.
- Henneman, R. O que é psicologia. 3ª ed. Rio de Janeiro,
       José Olympio, 1974.
- Morgan, Clifford Thomas. Introdução à Psicologia.
       São Paulo; Editora Mcgraw – Hill do Brasil, 1977.
-          Dicionário Aurélio.
- Mueller, F. L. História da Psicologia. São Paulo, Nacional, 1968.
- Pikunas, J. Desenvolvimento humano. São Paulo, McGraw –
       Hill do Brasil, 1979.
- Wertheimer, M. Pequena história da psicologia. São Paulo,
       Nacional, 1972.       




 
Bibliografia Básica
ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Psicologia: introdução aos princípios básicos  do comportamento. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lurdes Teixera. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
BRAGHIROLLI, Elaine Maria et al. Psicologia geral. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
MCGUIGAN, F. J. Psicologia experimental: uma abordagem metodológica. São Paulo: Epu, 2003.
SARTRE, Jean-Paul. Freud, além da alma: roteiro para um filme. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

Bibliografia Complementar
ALENCAR, E. S. Novas contribuições da Psicologia aos processos de ensino e aprendizagem. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
CAMPOS, L. F. L. Métodos e técnicas de pesquisa em Psicologia. 3. ed.  Campinas: Alínea, 2004.
PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

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