domingo, 3 de abril de 2011

DEUS

Deus
Ser supremo, causa primeira, existente por si,  absoluto, infinito, eterno, perfeito, onipotente, onisciente, o bem supremo (Summum bonum). Esses atributos de Deus poderiam ser admitidos por todas as religiões e aceitos -- ainda que para negar a existência divina -- pelos ateus.
O mistério de Deus. Deus é proposto pela razão e pelo sentimento como explicação do universo, da origem do homem, dos valores e da moral -- verdade, bem, justiça, amor. Assim, se Deus existe, deve ser diferente de tudo e superior a tudo aquilo que se pretende explicar com sua existência, superior inclusive à razão humana, para a qual constitui um mistério. Apesar disso, é possível chegar, pela razão ou pela fé, à convicção da existência de Deus e mesmo a uma definição e a uma descrição dele. Qualidades que se atribuem a Deus, como infinitude e onisciência, no entanto, são apenas analogias com conceitos que a razão humana pode admitir: a essência de Deus é misteriosa para o homem. Até mesmo os que afirmam ter contemplado Deus consideraram a experiência indescritível em termos humanos.
Se Deus fosse transparente e compreensível ao entendimento humano, seria apenas uma criatura a mais, algo pertencente ao mundo, e não a razão última de todas as coisas. A idéia genérica de Deus é, pois, um símbolo que indivíduos, grupos e culturas usam de várias formas e com significações distintas, para indicar e exprimir sua visão daquilo que se poderia denominar realidade última.
Tradição metafísica. Na civilização ocidental, a idéia de Deus está profundamente marcada pela influência que a cultura grega exerceu em sua formação. Desde seus primórdios, a filosofia grega dedicou-se a procurar resposta às perguntas: qual a explicação para a unidade do mundo sensível? O que explica a ordem do universo e o fato de que ele não se transforme em caos? Qual é a realidade permanente que está no fundo da transitoriedade de tudo o que ocorre no tempo? Tais perguntas revelam uma intuição fundamental da cultura grega: os processos de mutação por que passa o mundo material se dão sobre uma unidade básica, estável e atemporal.
A resposta que, de início, pareceu mais simples aos pensadores gregos afirmava que o sensível permanece contínuo e integrado por ser a expressão material e diversificada de uma única substância fundamental. Mais tarde, Parmênides e Heráclito afirmaram que a unidade do mundo não reside no próprio mundo, mas numa instância suprema que, sem ser material e sensível, consiste em ordem e unidade. O Ser, segundo Parmênides, e o logos, segundo Heráclito, não são substâncias, mas entidades de natureza puramente intelectual que só podem ser apreendidas pelo pensamento, mas não apreendidas pelos sentidos. Assim, o que se vê é explicado pelo que não se vê, o material é elucidado pela idéia e os processos temporais adquirem transparência pela mediação da mente. Em Platão e Aristóteles essa tendência teve as mais perfeitas formulações de que era capaz a mentalidade grega.
Essa maneira de entender Deus torna-se, assim, transparente: Deus é o símbolo para a idéia mais alta, o fundamento de tudo o que existe e o princípio lógico que permite entender o que existe. A visão de Deus confunde-se assim com a mais alta forma de intuição intelectual. É ele o primeiro princípio sobre o qual a existência e a explicação do mundo se assentam.
A questão da existência de Deus se torna então absolutamente fundamental, porque dela dependem não só a existência do cosmos (ordem) como também a possibilidade de seu conhecimento. Essa exigência científica constitui base para a formulação dos tradicionais argumentos da existência de Deus e de toda a teologia natural. São eles o argumento cosmológico, o teleológico e o ontológico.
Argumento cosmológico. Ao contemplar o universo, a mente humana formula as perguntas que qualquer outro fenômeno lhe sugere. De onde vem? Que força o produziu? Ora, o cosmo não contém em si mesmo a resposta para a pergunta sobre suas origens. A explicação do cosmo se encontra fora dele, numa causa primeira, não causada, Deus. A primeira elaboração filosófica desse argumento se encontra em Platão. Seu ponto de partida é o movimento, que embora possa ser classificado de várias formas, em última análise é redutível a dois tipos: movimento espontâneo e movimento comunicado.
O movimento espontâneo deve obrigatoriamente anteceder ao movimento comunicado, pois somente se ele já existir poderá ser depois comunicado. A matéria é inerte e só se move em decorrência de uma força exterior. No homem, somente a alma é fonte de movimento espontâneo. Essa é a razão por que, sem a alma, o corpo é morto. De forma análoga, todos os movimentos no universo que não decorrem da ação direta do homem têm de ser explicados por referência a uma fonte maior de movimento espontâneo: a alma do mundo. Considerando que todos os movimentos do cosmo são ordenados e racionais, conclui-se que a alma do mundo é racional e boa.
Argumento teleológico. A decifração de um dos mais fascinantes enigmas do universo é tentada pelo argumento teleológico da existência de Deus. Que os homens, capazes de ter e expressar desejos, sejam capazes de agir com uma intenção e consciência teleológicas, isto é, dirigidas para um objetivo, é explicável. Entretanto, como se poderá entender que os animais e mesmo vegetais, sem nenhuma idéia consciente de finalidade, sejam capazes de agir na direção de propósitos que eles mesmos desconhecem?
Do ponto de vista da experiência humana, o comportamento intencional só pode ser explicado por referência a uma mente e a uma vontade que o orientem. Portanto, só admitindo que o universo é governado por uma mente se poderá explicar a teleologia que se observa nos níveis inconscientes da realidade. Esse argumento se encontra em santo Tomás de Aquino e em reformulações posteriores, das quais as mais influentes são as de Alfred North Whitehead e Teilhard de Chardin.
Argumento ontológico. O pensamento idealista, que desde Platão tem sido uma das principais vertentes do pensamento ocidental, explica a existência de Deus com o argumento ontológico. Esse argumento se baseia no princípio segundo o qual aquilo que é necessário do ponto de vista lógico é também necessário do ponto de vista ontológico, ou seja, tudo o que é impossibilidade lógica é também impossível no real. O real é inteligível porque sua própria essência é racional.
O primeiro a elaborar o argumento ontológico de forma sistemática foi santo Anselmo, na obra Proslogium (Premissa). Mesmo o tolo, que em seu coração afirma não existir Deus, tem na mente uma idéia de Deus, pois em caso contrário não poderia negar essa idéia. Deus é o mais alto pensamento possível, "aquilo que de maior nada pode ser pensado". Tal idéia não pode existir no intelecto apenas, pois, se assim fosse, um conceito maior seria possível, ou seja, o de um ser existente que, além dos predicados pensados pela mente, tivesse um outro, o da existência. Logicamente, santo Anselmo conclui, o mais alto pensamento possível não pode existir na mente apenas e corresponde a um ser existente.
(Enciclopédia Britânica)

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